Ontem foi um dia intenso, em todos os aspetos. Um início de uma manifestação que tinha tudo para ser incrível… e foi! Milhares saíram à rua para lutar por uma vida melhor, desde crianças a idosos, todos com sorriso no rosto e força na voz, com cartazes em punho a descer a avenida! Mas essa parte vou contar noutro post no blog, amanhã.
Hoje venho contar ao que assisti em primeira fila, ninguém me contou. Foi vergonhoso, vi todos os momentos e custa acreditar que em nenhum canal de notícias a verdade tenha sido dita. Manifestar não é sinónimo de violência, empurrar seguranças de supermercado, intimidar jornalistas e fotojornalistas, pintar paredes, pintar carros de pessoas comuns, partir motas da polícia e agredir agentes. Isto é tudo menos o caminho mais correto para uma solução. Muito pelo contrário... Mas vamos ao que realmente se passou. Faço isto para quem não foi poder pensar no que viu nas notícias, no que ficou na sua cabeça e no que realmente aconteceu e quais os motivos para haver uma carga policial mais musculada. Caso fosse ao contrário, iria estar aqui da mesma forma a contar-vos o que se passou. As primeiras fotografias mostram o bom ambiente com que a manifestação decorria.
Vamos agora dar início aos pequenos tumultos durante a manifestação, nos quais a polícia nunca interveio. Vi um segurança do pingo doce a ser empurrado para dentro do supermercado e depois “siga” pintar as fachadas… desde o Pingo Doce, Santander, Remax, Continente, Novo Banco e Amanhecer. Durante estes momentos tentaram intimidar-me e aos meus colegas para não registarmos o que ia acontecendo. Notava-se o desconforto por parte dos outros manifestantes que estavam próximos.
Chegámos ao final do trajeto, onde supostamente iam haver discursos interventivos e música para o pessoal se divertir na praça do Martim Moniz, e ouço que duas raparigas estavam a ser identificadas por fazerem grafitis numas paredes. Dirijo-me ao local, onde dois polícias estavam à porta para não deixar entrar ninguém, e outros dois lá dentro a conversar com as raparigas e outra pessoa. No exterior estavam cerca de 20 manifestantes pacificamente.
Passaram 30 minutos assim, até que se começaram a juntar mais manifestantes e a cantar "não estão sozinhas", "manifestação não é prisão", "polícia é merda", entre outros. A polícia manteve-se tranquila, sem reforço de contingente… Entretanto, alguns manifestantes começam a pintar as motas deles, que estavam ali à porta, a vazar pneus, a partir piscas, até que "heroicamente" mandam as motas ao chão. Nada de carga ou reação policial…
E agora vem a parte mais importante, o momento em que houve necessidade de intervenção policial. E não foi pelas raparigas detidas, não foi pelos estragos nas motas, não foi por vandalizarem propriedades… foi porque houve um momento em que passa um polícia fardado, que nada tinha a ver com a polícia destacada para a manifestação. O agente tinha saído do seu turno e dirigia-se tranquilamente para casa, quando passa no meio dos manifestantes que estavam à porta e estes começam a chamar-lhe nomes, até que o empurram várias vezes e o pontapeiam! Deu-se aí o click, e os agentes que estavam à porta saíram em defesa do mesmo! Durante cerca de 10 minutos houve somente 8 polícias na zona, houve dezenas de garrafas e tochas a serem arremessadas pelo ar por um pequeno grupo de manifestantes, quando finalmente chegou reforço policial e a carga foi mais forte! Passados 30 minutos estava a ordem reposta. Foram acontecendo mais alguns desacatos, mas pouco relevantes.
Entretanto, as raparigas que estavam a ser identificadas foram embora, os ânimos acalmaram, ficando apenas meia dúzia de manifestantes, pelo que a polícia procedeu à retirada. Na praça continuava a festa com música.
Não tenho qualquer filiação por partidos, não sou polícia, sou fotojornalista freelancer. Tento mostrar sempre o lado bom dos eventos por onde passo pois é isso que os valoriza e lhes dá ainda mais força. Mas também é para mim impensável compactuar com vandalismo gratuito. Este grupo fez com que a manifestação ficasse manchada, nitidamente estavam ali só para desacatos. A polícia podia ter tido uma atitude mais pro activa mais cedo durante o trajecto, não permitindo que estes manifestantes fizessem o que fizeram, é certo, assim foram crescendo ao longo do caminho sem que ninguém os travasse até que ocorreram os confrontos.
Agora, vejam o que tem passado nas noticias versus realidade: será assim tão complicado os jornalistas, como profissionais que são, irem à procura da verdade? Acredito que titulos sensacionalistas deem mais canal, mas não é a maneira mais correta de informar quem está em casa. O motivo foi só um e foi mais que justificado. Se tiveram atitude para agredir um polícia que ia a passar, também têm que ter atitude para sofrer as consequências.
Amanhã publico a manifestação, a verdadeira. E que bom foi ver tanta gente na rua, de todas as idades a lutarem por um país melhor.
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